quinta-feira, 9 de julho de 2009
Duas mãos
Duas mãos cheirando a mofo
Tentei convencê-las a escrever outra coisa, que não a saudade
- Não!
Escrevem, desesperam a lembrança
Reverberam dos dedos linhas tristes,
Escuras e densas, linhas quebradas
Algumas palavras, eu descobri, estão mortas.
Mãos tortas ressuscitam, instigam cadáveres de letras.
Palavras cortam, coração
Destilam argila sobre as emoções
De pedra.
De pedra fizeram estátua a criança
Que sangra invisível sobre os veios do mármore frio.
Sangra calada no peito, espia a vida pelos olhos escuros, que já foram tão claros
No olhar, a trilha da solidão
Escalei as curvas do sofrimento
Uma a uma, descasquei da memória
Bem-me-quer, malmequer, último capítulo
É subjetivo o ponto final, onde quer que ele seja colocado.
O ponto final morre no começo de mais um ponto.
Somos pontos........ .
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A velha carta de verão
Guardava ainda o cheiro doce daqueles ventos
Em cada linha um grito abafado do tempo
Cheiros de erva-doce e de suor de crianças espalham na memória
Sol queimando a tarde,
Fogueira de lembranças
Balanço na árvore, só
Cadê o vermelho do amor, quase preto de paixão?
Na algema, as mãos
Cadê a menina de oito anos?
Bolo diabético celebra a má idade
Não há velinhas, nem velas, nem nada
Os balões murcharam dentro dos olhos
O chantilly ficou negro, bem escuro
Não há mais tardes de verão como aquelas
Não da mais para subir em árvores,
Pular amarelinha com o corpo leve e claro
Nem o vento do sul é igual
É menos frio, não gela o nariz
Nada ficou no lugar
Havia bonecas e sonhos no muro do quintal
O muro caiu, ficou apenas alguns tijolos velhos, onde às vezes eu me escondo.
É grave o som da música
Tem garras e duas patas a tristeza
Sublinha sobre o dia o negrito das horas
É grave o tamanho dessa saudade.
cassiane.
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Um comentário:
Bonito, bonito.
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