Tempo de Recomeçar

Tempo de Recomeçar
"Essa história vai emocionar você"

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Só por Hoje

Hoje eu quero,

A acústica do silêncio sobre meu telhado

Ver um pássaro novo inaugurar o céu

Sentir o perfume dos ventos

Desaprender tudo...errar a palavra, morder a palavra, salivar o escuro embaixo da pedra.

Quando pequena, meus pés era mais que simples pés, eram asas; Neles não cabiam sapatos, não cabiam dúvidas.

Quando menina, a terra era mais que terra e as árvores eram escadas que Deus construía para chegarmos mais perto Dele;

Os pássaros eram galinhas que ciscavam nuvens.

Quando andava de bicicleta, e vinha aquele vento fresco lamber meu rosto, eu chegava perto de Deus!

A igreja era um lugar engraçado, hoje é um lugar estranho. Deus ainda mora no vento, na árvore perto de casa, em mim.

Na frente de casa, quado chovia, as águas desciam do barranco, forma-se um laguinho no jardim, lá mergulhava minha alegria...banho de chuva, vaga-lumes em noites escuras, cheiro doce de pedras, tangerinas e laranjas doces amargas, infância!

Hoje quero o inverso, colecionar raízes de plantas, ver cicatrizada todas as mentiras do mundo.

Ir além da imagem, além de tudo que me faça pensar, quero pensar do avesso, mergulhar na contramão das coisas prontas, vencidas, podres.



Hoje quero o chão como o céu e o nada como caminho...





(Cassiane Schmidt)

rotina do fim


Desce a cortina

Dormem as ruas
Luzes se apagam
Lá, onde tudo termina
O tempo inicia sua rotina


O assoalho velho, manchado, embala
Os passos dum velho relógio atrasado
Na porta, memórias de partida e chegada
O fim nos espia por todos os lados


(Na velha casa, onde velhos personagens criam traças),


Talheres dormem nos pratos
Cadeiras disputam vazios
Sobre a mesa seus pedaços
Somos feitos água de rio

Silêncio, estrada do tempo
Onde o destino nos faz caminho
Quando iludida penso
Estar viva, já se desfez o meu ninho



A vida deveria sem assim:
Um sempre chegar, um nunca partir
Mas o tempo vem e nos diz:
Arrume suas malas, recolha seus pedaços

Essa é a rotina do fim!

 
Cassiane Schmidt

Ele e Ela



A rotina da mentira é o fim











No coração dele _ cadeiras vazias


No coração dela __palpites e arrepios



Na igreja, enquanto o padre dizia:

- Para sempre...



Ele pensava: para sempre não existe!

Ela, (com lágrimas nos olhos), sorria



Nas mãos dela, compromisso

Nas mãos dele, bijuteria



Festa, convidados, música, INDIGESTÃO



Na segunda-feira: rotina



Nela, verdades

Nele, mentiras



O chão-nosso de todo dia os engoliu

Ela, vazia

              .
.
..                          Ele sumiu!



Cassiane Schmidt

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Janela fechada



Brilha o sol nos olhos de Maria

Em sua boca deságua todo o mar

Até a tarde se está sombria

Quando ela passa, volta a brilhar


Quando ela passa pela rua

Todas as janelas se abrem

Tudo a volta dela se desfigura

Meus olhos em mim já não cabem


Minhas tardes são de Maria

Fiz promessa a todos os santos

Se um dia ela for minha

Cobrirei seu rosto com um manto



E ninguém jamais participaria

Da beleza da minha amada

Pois sendo minha

Viveria em meus braços

Para sempre enclausurada



Teve um dia que ela não passou

Outro também não

Será que alguém à levou?

Será de outro seu coração?



A rua sem ela ficou de luto

Eu insistia todos os dias

Buscava em outras faces seu vulto

O sorriso de Maria...



Guardo a imagem dela

Dentro de cada segundo

E nunca mais minha janela

Viu um anjo mais lindo no mundo...



Teve o dia que a janela se abriu

Foi o vento da noite

Foi um vento de frio...

Um aviso de morte!



Abriram-se os portões do cemitério

Com tristeza encontrei minha amada

Em sua volta o canto funéreo

Em mim, uma alma inconformada


Na laje fria, com os olhos fechados

Estava Maria em sono profundo

Dos céus soava um canto sagrado

...Menos um anjo neste mundo...


Junto de minha amada

Foi-me toda a alegria

Janela fechada,

Maria...



(Cassiane Schmidt)



Poema inspirado no poema “Quando Ela Passa” do imortal Fernando Pessoa. Confiram
http://www.revista.agulha.nom.br/fpessoa334.html), considero o melhor poema deste Senhor das letras...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Abismo



Na carne solitária do poeta

Um verso nasce.

Papel respirado em saudade

Passado abrindo frestas



Poemas esculpidos revelam

A doçura das mãos

Não importa o ritmo

O destino é um descarrilado vagão



Na parede dormem as horas

Num silêncio que tudo acorda...

Na triste solidão de um livro

Convenço meus personagens

A construir uma ponte sobre meu abismo



Quando a noite chega

Viro as páginas da solidão

Com a triste certeza

De que outras saudades virão...

 

(Cassiane Schmidt)