Sonhei que havia morrido
Acordei morta, sentindo-me viva num outro mundo.
Despertei num pequeno quarto com muitas janelas, não havia nada nele
além de uma pequena escrivaninha com um pedaço de papel e uma
caneta gasta de mim.
Olhei pelas janelas, avistei um jardim surreal, nem feio nem bonito,
apenas estranho.
Um longo varal estendia-se a perder-se de vista nas planícies verdes azuis
daquele lugar.
Penduradas no varal, estavam folhas de papel, suspensas num cordel
gigantesco, feito de cipó, coisas malucas do tipo que só vemos
em sonho.
Ao invés de grampos, eram pássaros multicolores que prendiam as folhas
, os pássaros trocavam cantos, esculpiam asas no vento,
perfumavam as folhas com poléns de flores virgens.
Aproximei-me do imenso varal, recolhi, curiosa que sou, uma das folhas
ali suspensas. Tratava-se de letras, todas elas misturadas.
Eram lindas letras, que se depreendiam do papel, umas caiam por terra,
outras ganhavam o céu. Teve uma que vi voando nas asas do pássaro,
teve uma que vi chorando num ponto final.
Teve letra abraçada, hifens rendidos, parágrafos sublimados em diálogos
perdidos.
De repente uma letra debruçou sobre meu olhar, emudeci num grito
surdo, ao sentir uma delas em meu coração se acomodar.
Não entendi, apenas assenti ao estranho e jamais sentido.
Não quis acordar antes de entender...
Havia seis horas penduradas no relógio, quando despertei do sono com o
cheiro de café sobrevoando a cozinha, esticando-se até o quarto.
Sobre meus braços repousava um livro do Pessoa, que até em sonho nos faz mais gente!
Antes do café, antes de começar o dia, depois de desisitir de entender, um pouco mais de poesia!
Cassiane Schmidt
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Haikai do texto Sonho (Por Isnelda Weise)
um jardim noutro mundo
onde pássaros perfumam
a vi(n)da das letras
um jardim noutro mundo
onde pássaros perfumam
a vi(n)da das letras
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