maravilhoso Castro Alves.
UMA NOITE, eu me lembro... Ela dormiaNuma rede encostada molemente...Quase aberto o roupão... solto o cabeloE o pé descalço do tapete rente. 'Stava aberta a janela. Um cheiro agresteExalavam as silvas da campina... E ao longe, num pedaço do horizonte, Via-se a noite plácida e divina. De um jasmineiro os galhos encurvados,Indiscretos entravam pela sala,E de leve oscilando ao tom das auras,Iam na face trêmulos - beijá-la.Era um quadro celeste!...A cada afagoMesmo em sonhos a moça estremecia...Quando ela serenava... a flor beijava-a...Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...Dir-se-ia que naquele doce instanteBrincavam duas cândidas crianças...A brisa, que agitava as folhas verdes,Fazia-lhe ondear as negras tranças!E o ramo ora chegava ora afastava-se...Mas quando a via despeitada a meio,P'ra não zangá-la... sacudia alegreUma chuva de pétalas no seio...Eu, fitando esta cena, repetiaNaquela noite lânguida e sentida:'Ó flor! - tu és a virgem das campinas!'Virgem! - tu és a flor da minha vida!...' Ses longs cheveux épars la couvrent tout entièreLa croix de son collier repose dans sa main,- Comme pour témoigner qu'elle a fait sa prière.Et qu'elle va la faire en s'éveillant demain. A. DE MUSSET
(Castro Alves)
(Castro Alves)
Um comentário:
Ô, Cassiane, que beleza o Castro Alves no teu blog! Logo este poema, de sua linha erótica. E tem gente que acha que o cara só escrevia sobre escravos, é mole? Já que tu gostas, aí vai mais um dele (aliás, o meu predileto!), da mesma fase:
Boa noite
Boa noite, Maria! Eu vou,me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde. .
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa noite! ... E tu dizes - Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
- Mar de amor onde vagam meus desejos!
Julieta do céu! Ouve... a calhandra
já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti? ... pois foi mentira...
Quem cantou foi teu hálito, divina!
Se a estrela-d'alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."
É noite ainda! Brilha na cambraia
- Desmanchado o roupão, a espádua nua
O globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua. . .
É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores.
Fechemos sobre nós estas cortinas...
- São as asas do arcanjo dos amores.
A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!
Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora. . .
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!...
Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
- Boa noite! - formosa Consuelo.
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