Tempo de Recomeçar

Tempo de Recomeçar
"Essa história vai emocionar você"

sábado, 11 de julho de 2009

detalhes



Bebi a água da poça
Era marrom a água
Escondi dentro do vaso, eu
Dentro do quadro
Embaixo do tapete
Ouvi a vida cochichar lá fora


Na parede o quadro pintou dois girassóis amarelos
No chão, nasceram muitas pegadas
A luz da lâmpada despencava do teto
Na televisão, eu vi alguma coisa.


A chuva se esfregava nas calhas velhas
Tinha dois palmos o escuro embaixo da casa
Na rua as pedras dormem
As flores fizeram greve ontem
Caíram uma a uma, na solidão da grama verde

Ouvi um barulho
Lá fora, um barulho
Espiei na janela
Vi o escuro dentro da calçada
No céu, um sol fora de época
A janela estava cega



cassiane.s

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Duas mãos


Duas mãos cheirando a mofo
Tentei convencê-las a escrever outra coisa, que não a saudade
- Não!
Escrevem, desesperam a lembrança
Reverberam dos dedos linhas tristes,
Escuras e densas, linhas quebradas
Algumas palavras, eu descobri, estão mortas.
Mãos tortas ressuscitam, instigam cadáveres de letras.

Palavras cortam, coração
Destilam argila sobre as emoções
De pedra.

De pedra fizeram estátua a criança
Que sangra invisível sobre os veios do mármore frio.
Sangra calada no peito, espia a vida pelos olhos escuros, que já foram tão claros
No olhar, a trilha da solidão

Escalei as curvas do sofrimento
Uma a uma, descasquei da memória
Bem-me-quer, malmequer, último capítulo

É subjetivo o ponto final, onde quer que ele seja colocado.
O ponto final morre no começo de mais um ponto.

Somos pontos........ .
.

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.
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A velha carta de verão
Guardava ainda o cheiro doce daqueles ventos
Em cada linha um grito abafado do tempo
Cheiros de erva-doce e de suor de crianças espalham na memória
Sol queimando a tarde,
Fogueira de lembranças
Balanço na árvore, só


Cadê o vermelho do amor, quase preto de paixão?
Na algema, as mãos


Cadê a menina de oito anos?
Bolo diabético celebra a má idade
Não há velinhas, nem velas, nem nada
Os balões murcharam dentro dos olhos
O chantilly ficou negro, bem escuro
Não há mais tardes de verão como aquelas
Não da mais para subir em árvores,
Pular amarelinha com o corpo leve e claro
Nem o vento do sul é igual
É menos frio, não gela o nariz
Nada ficou no lugar
Havia bonecas e sonhos no muro do quintal
O muro caiu, ficou apenas alguns tijolos velhos, onde às vezes eu me escondo.


É grave o som da música
Tem garras e duas patas a tristeza
Sublinha sobre o dia o negrito das horas
É grave o tamanho dessa saudade.


cassiane.



Chove
Cada gota
Vira oceano dentro de mim
Revira no peito
Inquieta melancolia

Chove
Eu
seco aqui dentro

Chove, chuva, chove,
escorre meus olhos
O telhado da casa é escorregador da chuva
Do que é feita a chuva?
De lágrimas de anjos?
De água suja?

A chuva é feita dos olhos
Que encobrem o sol das retinas!



c.


Vomitei saudade no prato da tristeza

Tive vertigens

Desequilibrei nas notas musicais da lua pálida

O olhar mudo disse sim!

O instinto, não!

Pulei, pulei bem alto dentro de mim

A água do poço secou

Sede, tenho sede de água pura

O cheiro amargo da noite infestou o jardim

As flores acordaram inclinadas, viradas com a boca para o chão, comendo terra

O sol, ele estava ali, mas a cegueira foi maior!

Neste dia tão triste...tão triste

Calei.


c.