Já dizia o saudoso Renato
Russo “O mal do século e a solidão”. Concordo. A sociedade passou por intensas
transformações. Costumo dizer que o século XX marcou os grandes e rápidos
avanços da humanidade. Entramos neste século a cavalo e saímos de avião.
Tanta informação e
transformação respingaram, não poderia ser diferente, nos relacionamentos
humanos. A solidão é a grande vilã do contexto em que vivemos. Em meio a tantos
avanços tecnológicos e condições melhores de vida, surge um novo modo de vida:
o isolamento.
Estamos nos isolando uns
dos outros. Criando diques de contenção para nos proteger do mundo. O
individualismo é uma característica marcante do novo contexto.
Pais cada vez mais
atarefados e sobrecarregados pelo excesso de trabalho, mal encontram tempo para
seus filhos. Os filhos, também com excesso de informação e uma gama de opções
para passar o tempo, acabam perdendo de vista o foco de suas vidas.
Antigamente, (sei que essa
frase soa clichê, mas é preciso retomar exemplos) os filhos nutriam uma relação
mais próxima com seus pais, os pais repassam princípios e valores para os
filhos, que eram muitos. Hoje, pais e filhos, maridos e esposas, mal se
conhecem. Não tiram tempo para se conhecerem.
O ritmo da vida frenética
assumiu as rédeas da convivência e a saúde nos relacionamentos adoece. É comum
acompanhar depoimentos de pais que ficam surpresos ao descobrirem que o filho é
um traficante, assassino. Vi um depoimento de uma mãe que ficou em choque
quando seu filho foi preso, acusado de assassinato e formação de quadrilha. Os
pais não prestam mais a devida atenção ao seu rebento.
Pergunto-me, como uma mãe
não conseguiu observar que havia alguma coisa de errado no comportamento do
filho? Esse é apenas um dos inúmeros casos em que a família não se dá conta do
que esta acontecendo em seu entorno. É nessa conjuntura solitária dos tempos
hodiernos que as pessoas sobrevivem.
A solidão ganhou uma cara
nova, ela não é mais caracterizada pelo sentimento de “estar só” e sim passou
para o sentimento de “sentir-se só”. Hoje a solidão está entre as massas.
Observa-se, cada vez mais, homens e mulheres bem sucedidos profissionalmente,
mas, solitários e infelizes.
Costumo dizer que a pior
solidão é aquela vivida a dois.
O campo das relações está
minado de solidão. Ninguém mais encontra tempo de ouvir o outro, é cada um por
si e Deus por todos. A sensibilidade, tão necessária para um relacionamento
saudável, encontra-se relegada ao esquecimento.
Talvez isso explique a
instantaneidade dos rompimentos. As pessoas agem e se envolvem por impulso, por
carência. Na primeira crise, a casa cai.
Relacionamentos
relâmpagos, crises existências, fugas, e, lá vem ela: a solidão.
É preciso preencher nossos
“vazios”, estaremos aptos a viver a dois quando conseguirmos estabelecer um bom
relacionamento com nós mesmos. Muitas pessoas mal suportam a si mesmas, como
poderão suportar a outros, aos defeitos do outro.
Amar a si próprio é o primeiro
passo rumo a uma vida mais plena de sentido e mais distante da solidão.
(Cassiane Schmidt)