Tempo de Recomeçar

Tempo de Recomeçar
"Essa história vai emocionar você"

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Dois versos



Habitam-me dois versos
Um feito de árvores
Outro de frutos

Nos versos feitos de árvores
Construí um balanço
Onde dependuro-me em horas vazias,
No vai e vem dos anos mudos,
Onde tudo parece ranço.


Nos versos feitos de frutas
Degusto muitos sabores
Cítricos doces amargos
Desejos insanos,
Devoram-me os dias
Com apetite profano!

O primeiro verso me aporta
O outro me descarrila
Os dois duelam em vão
Enquanto,
o tempo me leva em suas mãos...


(Cassiane Schmidt)

Não sei...



Não sei se era dia ou noite
Sei que estive a brincar,
Por ruas largas, floridas casas,
Na encosta dos anos,
Pus-me a voar...

Pois que criança não anda, voa
Não fala, canta
Não chora, sente!

Neste lugar de brincadeiras
Encontrei muitas coisas
Cavalos-marinhos
Pés descalços
Carrossel de flores
Tudo feito de pensar...

Corri por verdes campos
Vaga-lumes disfarçados de estrelas,
Iluminavam as asas do meu sonhar

A lua vestiu-me seu manto
Os pássaros tomados de espanto
Puseram-se em bando a voar

E tudo isso se deu
No meu indisciplinado coração
Que teima em segurar o tempo
Com suas frágeis mãos...



Cassiane Schmidt

Houve um tempo,



Houve um tempo, ainda ontem,
Que em mim moravam flores.
Meus pés eram asas,
Meus olhos o céu.

Houve um tempo
Em que muros eram apenas tijolos
E a tristeza feita de papel

A casa pequena abrigada grandes sonhos
Que hoje em castelos não cabem...

Houve tempo
Em que eu era janelas, ritmo e cor
Hoje sou portas!

Mas uma janela aberta,
Para sempre em mim ficou.


(Cassiane Schmidt)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A busca




- Onde encontro a poesia?
Ousou um dia,
O aspirante poeta aos céus perguntar.

Acudiu-lhe uma voz:
- A poesia está onde teu coração
Puder alcançar!


Meu coração é tão pequeno – desfez o poeta -
Asas, ele não possui!
Como poderei um dia,
A poesia encontrar?

A voz respondeu:

- Voa sem medo pelas planícies do teu coração
Amputa os pés se preciso for.
Sede suave como a brisa,
Inocente como a flor

E, assim, quando menos esperar
Em tuas mãos nascerão asas,
Teus dedos aspergirão poesia.

Mas não te enganes, aspirante poeta

A poesia é feita de vazios.
Nasce quando dorme,
Morre quando desperta!
Nunca vai, nunca fica!
Deixa sempre atras de si
Uma porta aberta...




Cassiane Schmidt

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Despedida




Lágrimas alfabetizam o coração

Guarda-roupa órfão
Mesa vazia
Olhos derramados
Paisagens sem moldura
Vagas de garagem
Pele crua
Lábios singrados em últimos beijos
Braços naufragados em memórias,
Desviam a órbita: saudade!
Vidro quebrado
Corredor sem passos
Malas feitas.
Café com leite
Relógio parado
Janela fechada

Silêncio...
,

Portas abertas
,

Silêncio...

Sobre a mesa o vaso,
No vaso a flor
Na flor todo jardim
No jardim a ausência,
Na ausência o fim
,
,
,

, Silêncios
.
Cassiane Schmidt