Tempo de Recomeçar

Tempo de Recomeçar
"Essa história vai emocionar você"

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Sonho de Natal



Brilha a lua no negro céu
Crianças tecem pedidos
Esperam o papai-noel
Anjos pela inocência rendidos

Quero um presente neste natal
A paz e a alegria para todas as crianças
Fadas madrinhas dissipando o mal
Casas enfeitadas de esperança


Que Deus proteja as crianças
Atenda a todos os pedidos
Que a fé seja a herança
Escriturada nos corações adormecidos

Cartinhas de natal há em toda parte
Sonhos em letrinhas depositadas em papéis
A caridade é a maior obra de arte
Sejamos todos papais-noéis

Adotar um sonho é sublime missão
Antidoto contra a maldade
Jesus nascendo em cada coração
Revela a verdadeira irmandade


No céu de natal uma estrela brilha
O sorriso no lábio da criança nasce
A paz semeada nas famílias
Deus revela em nós a sua face

Crianças felizes na terra
Celebram um mundo ideal
O amor no coração impera
Tenhamos todos, um feliz natal!



(Cassiane Schmidt)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Presente de Natal


Desperta do que parecia ter sido um sono de mil anos, encontrei o olhar sorumbático de vovô me fitando, olhos de mestre, como a avaliar o aluno aprendiz. Lembrei-me do primeiro dia de aula, quando cheguei ao colégio, numa manhã invernal, sentia um tremor nas mãos e um medo do novo mundo que se apresentava, o olhar da professora que fitava aos alunos como num batismo inicial, um reconhecimento da turma, assim também, parecia vovô a me olhar, com olhos de reconhecimento. Mamãe sempre diz, que eu chorei muito em meu primeiro dia de aula, nada importava mais para mim do que brincar, brincar e brincar no livre e venturoso chão da infância. Do mesmo modo, não sei por que, sinto-me, agora, invadida por esta sensação novamente, como se estivesse caminhando numa cidade desconhecida, longe das pessoas queridas, num universo novo. Terminado o breve monólogo, voltei-me a figura de vovô, que agora, sorri levemente para mim, como se estivesse entendendo meus sentimentos, decifrando e achando graça de minhas solitárias indagações. Uma suave brisa beijou-me a face, senti um frescor intenso percorrendo todo o meu corpo, um cheiro doce das laranjeiras, um cheirinho de grama cortada invadia-me os sentidos, por alguns breves e intensos momentos vi-me menina, solta, embalando-se num balanço que meu pai fizera para mim. Vi-me andando com minha bicicleta, jogando bola. Ah, que maravilhosa sensação! Acho que estou sonhando!
Aos poucos minha memória começou a inquietar-me os pensamentos, lembrei que vovô havia morrido há um ano, lembrei-me da última vez que vi o olhar do meu marido, ele acenou para mim com o costumeiro “vai com Deus”! Eu estava indo para a faculdade, chovia muito, o vidro do carro estava embaçado, lembro de ter ficado irritada com isso. Durante o percurso liguei para minha mãe, conversamos alguns minutos, desliguei, combinamos de nos falar no dia seguinte!
A estrada estava lisa, andava devagar com o carro, de repente, vi um enorme caminhão invadindo a pista, vindo em direção ao meu carro, senti um forte impacto e...meu Deus, o que aconteceu? Onde estou? Vovô diga-me alguma coisa!
- Você morreu querida, já faz alguns dias que eu estava esperando você acordar.
- Morri! E morrer é assim, tão rápido? Tão estupido? Eu preciso me despedir do meu marido, prometi ligar para mamãe! Tenho prova na semana que vem...
- Você já se despediu de todos, a vida é uma longa viajem, sempre estamos ensaiando despedidas...
- Mas...
- Fique calma, com o tempo você vai se acostumar, assim como eu me acostumei.
Senti, neste momento, um pesar profundo, encobriu-me a face o véu da tristeza.
Estava num quarto, parecia um leito de hospital, vovô estava tão bonito, parecia bem mais moço. Olhei pela janela e vi um imenso jardim, pássaros de todas as cores dançam valsa no céu azul. Lembrei-me de mamãe e de meu marido, cada vez que lembrava deles a dor invadia meu peito. Vovô segurou minhas mãos e levou-me para vê-los! Andamos um pouco até chegar num lindo portal, atravessamo-lo e, como num passe de mágica, estávamos na casa dos meus pais.
Vi minha família reunida em casa. Estavam todos a mesa jantando, era noite de natal. E eu tinha que morrer logo perto do natal! Não podia ter sido em Janeiro...
Mamãe estava bonita, vestia uma blusa azul que eu lhe havia dado. Meu marido com os olhos embargados fazia a oração de natal, nesta hora, os pratos de comida, sem exceção, foram temperados pelas lágrimas que deslizavam sobre as tristes faces. Minhas irmãs abraçavam-se, sentindo a ausência dos meus braços. Meu marido, vez por outra fitava sua aliança, como a acariciar todas as nossas lembranças...
Vovô alertou-me que teríamos que partir, pedi para esperar até a entrega dos presentes, de certa forma nutria a esperança de que alguém me veria, entregaria o meu presente. Todos apagaram as velinhas do pinheirinho, ficando uma para trás, era a minha vela! A vela solitária chorava sua cera sobre o último embrulho de presente. Aproximei-me do pinheiro de natal e soprei minha vela, neste momento sentia vozes me chamando, não sabia de onde vinha, ate sentir uma sensação de estar caindo de um abismo, aos poucos fui abrindo os olhos...e vi meu marido apertando meu dedinho do pé:
- Acorda dorminhoca, hoje é natal!
- Acordar? ....sim, sim, quero ficar acordada para sempre!!!


Obrigada meu Deus por este presente de natal, minha vida....minha vida!





(Cassiane Schmidt)

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Duas chuvas/ Tragédia em Santa Catarina




Chovem duas chuvas:

Uma de água e outra de lágrimas
Uma de água e outra de lama
Uma de água e outra de casas
Chuvas que deixam crianças sem cama

Chovem duas chuvas:

Uma de água e outra de fome
Uma de água e outra de azar
Uma de água e outra sem nome
Chuvas que levam em suas águas a paz

Chuvas de desespero, de tristeza
Chuvas de solidão
Chuvas em cima da mesa
Terra no lugar do pão

Esta chuva que não cessa
Deixando tantos ao léu
Pedidos, súplicas e promessas
Olhares aflitos esperam a ajuda do céu

Corpos engolidos pela terra
Sem tempo de se despedir
Avalanches invadem sem espera
Vidas convidadas a partir

No olhar da menina passeia uma lágrima
A chuva insolente beija-lhe a face
Pezinhos descalços no chão de lástimas
Na inocência das crianças a esperança nasce


Chega de tanta chuva!
Que reine o sol e a luz
A fé do povo se curva
Aos pés da santa cruz!


Deus!
Há muito sofrimento nestas paragens
Lança sobre os desabrigados a tua proteção
Dá para Teus filhos a coragem
Que encontrem na tristeza
A fortaleza da oração


Deus!

E aqueles que se foram
Levados pela terra e pela água
Segura-os em Tuas mãos
Que tenham no céu uma morada
E a paz eterna reine em cada coração


E para aqueles que ficaram
Muita força e coragem
Aqui por onde as águas passaram
As terras desmoronaram
A fé, agora pede passagem!



(Cassiane Schmidt)

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Bem-te-vi



Bem-te-vi...
Bem-te-vi...

O que vês tão bem assim?
Diga-me! Bendito pássaro
São anjos tocando clarim?
Ou estrelas dançando no espaço?

Mas o que tão bem viste?
Para tanto repetir...
Nesta tarde triste:
Bem-te-vi...bem-te-vi...

Revela teu segredo
Para que eu possa entender
Qual o enredo
Deste aclamado bem-querer

Voa passarinho, voa...
Neste céu cinza de nuvens
Tão certo quanto tuas asas
É o destino que cumpre

A tarde triste morre
Cabisbaixa nas luzes que extingue
A chuva tristonha que escorre
O teu canto cinge

Bem-te-vi:
Dá-me carona em tuas asas,
Para juntos bem nos ver
Quero o céu como casa
E o teu segredo conhecer

Mas se não puderes, não faz mal
Pior que viver com pés presos no chão
E deixar de ouvir tua doce canção


Bem-te-vi....
Bem-te-vi....


(Cassiane Schmidt)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Poema




Poemas, o que são?


Fuligens esquecidas nas chaminés do tempo
Sonhos – Medos - Lenços



Letras de salvação
Terra inocente de Marias e Joãos
Tudo é poesia no coração de quem sente.

Poema,
É feito de tudo aquilo que penso
Mas o pensar importa menos que o sentir,
Pois é só quando sinto, que me sinto,
E sou capaz de saber a hora certa
que o pensamento sentido pede para nascer...



O poema está no olhar puro da criança,
Está nos letárgicos passos do andarilho, é feito de sucos, sumos, vultos;
Nasce da dor, da alegria, ou simplesmente, das mãos frias.
Poemas escuros e claros, tão raro os raros...
É assim o poema,
O indumentário da alma, a escritura do amor, algumas vezes da dor;
O parto dos sentimentos, retrato de momentos
Mas onde esta o poema?
- Nas asas do pássaro?
- Banhando-se em lágrimas?
- Nas horas que passam?
- No vento que passou...?
Não sei onde ele está!
Onde escondem-se os poemas, pergunto, onde?
O poema Parte antes mesmo de chegar
Está em tudo, vive em vigília na alma do poeta,
atocaiando o momento certo para nascer, e nascendo,
vive e goza a eternidade de breves momentos,
Figurando-se em múltiplas faces no olhar de quem o descobre,
redescobre e o batiza,
o leitor.

Esperem!!!
Um poema acaba de passar por aqui...

Poemas, pomar de versos
Vinho tinto de letras
Degustando o universo
Anacoluto de surpresas

Poemas testemunha ocular
Inventário de sensações
Acidente vascular
Rebusca de emoções

Poemas de cores aladas
Esconde-se atrás do muro
Na chuva beijando a calçada
No esconderijo do olhar escuro

Poemas, aquecidos em ninhos
Caminhos de flores
Chorando os espinhos
Exorcizando agoures

Poemas, ilusão de versos
Tessitura de letras
Afogam e submersos
Talham as palavras crespas

Poemas feitos de mar
De vento e arestas
Conjugam o verbo amar
Em todos os tempos
Sem pressa, sem pressa



(Cassiane Schmidt)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Tristes horas...



Do que são feitas essas horas tristes?
Meu coração quer saber!
De onde vem essa melancolia que aflora
Cobrindo de tristeza todo o ser?

De onde vem esses minutos de agonia?
Paisagens em preto e branco
Nos olhos a negra letargia
Na alma, cenário de desencanto

A tristeza chega de mansinho
Ocupando as cadeiras do coração
A melancolia constrói seu ninho
Fotos e memórias mergulham na solidão

Sobre as tristes horas vagueiam
Sorumbáticos versos de saudade
Sentimentos absortos passeiam
Pelos vales inóspitos da verdade


Por quanto tempo ainda lamentar-se-á a languidez das horas?
Horas que passam devagar, devagarinho passam
Mas onde está a minha paz agora?
Brincando nas asas de um fugidio pássaro?

O poeta me vigia na noite escura
Espreita-me algoz, os versos dolentes
Rimas pobres e ricas, rimas puras
Retratam as cinzas das horas tristemente

E quando a andarilha tristeza vai-se embora
Sinto tocar-me a face os benfazejos ventos
A alegria novamente mora
Na terra virgem do tempo...


Cassiane schmidt

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Há tanta vida no Pessoa



Chove? Nenhuma chuva cai



Chove? Nenhuma chuva cai...

Então onde é que eu sinto um dia

Em que o ruído da chuva atrai

A minha inútil agonia?

**

Onde é que chove, que eu o ouço?

Onde é que é triste, ó claro céu?

eu quero sorrir-te, e não posso,

Ó céu azul, chamar-te de meu...
***

E o escuro ruído da chuva

É constante em meu pensamento.

Meu ser é a invisível curva

Traçada pelo som do vento...

****
E eis que ante o sol e o azul do dia,

Como se a hora me estorvasse,Eu sofro...

E a luz e a sua alegria

Cai aos meus pés como um disfarce.

*****

Ah, na minha alma sempre chove.

Há sempre escuro dentro de mim.

Se escuto, alguém dentro de mim ouve

A chuva, como a voz de um fim...

(Fernando Pessoa)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

As faces que o tempo revela



Numa pequena aldeia longe da civilização, havia um lindo rebanho, com abundantes e verdes pastagens; Neste rebanho havia uma grande família de cordeiros, todos liderados pelo cordeiro mais velho, ele era uma espécie de conselheiro dos mais jovens; Todos viviam em paz e harmonia, eram corteses uns com os outros e viviam num clima benfazejo e de muita paz. Certa feita, o grande rebanho foi surpreendido por uma visita inusitada, apareceu no alto do grande vale um lindo cordeiro, sua lã alva e formosa chamou atenção de todos, sem dúvida, era de uma beleza singular e, por isso, todos os outros animais ficaram boquiabertos diante do imponente visitante.Chamaram o sábio do rebanho para contar-lhe o ocorrido; O sábio muito gentil perguntou ao recém chegado: - o que te trás por estas paragens, jovem e belo cordeiro?Então com uma visceral oratória e primada educação, o visitante respondeu ao sábio:- vim de muito longe, perdi-me de minha família e fiquei só neste mundo, peço clemência nesta hora difícil e imploro que me aceites neste tão belo rebanho!O velho e bondoso líder refletiu por alguns instantes e aceitou o pedido do forasteiro;
Nos dias que se seguiram, tudo começou a mudar na rotina do grande rebanho, o garboso visitante começou a criar pequenas intrigas entre os demais cordeiros, era gentil e educado e, consequentemente, passou exercer influência sobre os demais, semeando dissimuladamente a discórdia entre todos. Enquanto o caos ia se instalando no rebanho, entre brigas e discussões, o velho sábio começou a perceber que seu rebento estava cada vez menor, e a cada noite um ou mais cordeiros desaparecia! Além do que, o comportamento do tão simpático visitante parecia ser, em alguns momentos, dissimulado!
Com o passar do tempo, o simpático e educado cordeiro, passou a ter um comportamento cada vez mais instável, revelando pouco a pouco sua verdadeira identidade, o que deixou o líder do grupo desconfiado!
Foi então que o velho sábio decidiu ficar em vigília na noite seguinte, para tentar descobrir a causa do desaparecimento dos cordeiros, já que o fato ocorria somente à noite!A noite se aproximava e todos os cordeiros foram dormir, apenas o velho sábio ficou escondido a observar o que acontecia, foi então que ele surpreendeu-se ao ver o visitante, o cordeiro mais belo que já tinha visto, arrancou sua máscara, revelando sua verdadeira identidade, era um lobo!
O velho sábio ficou horrorizado com a cena que acabara de presenciar, o lobo algoz, na surdina da noite, atacou e devorou um cordeiro que dormia! Desfeita a farsa, assim que amanheceu, o velho sábio reuniu todo o rebanho e contou-lhes a verdade, alguns se revoltaram contra o velho conselheiro, alegando que ele permitiu a entrada do intruso no rebanho! Outros planejavam a prisão do lobo, foi então que um dos cordeiros perguntou ao velho sábio: - Mestre, qual o antídoto para não sermos mais enganados por algum lobo que se vista em pele de cordeiro? O mestre pensou por alguns instantes, e respondeu ao jovem cordeiro: - O tempo! Não há nenhuma máscara que resista ao implacável tempo! O tempo tudo revela, é o conselheiro mais sábio que existe!Todos aplaudiram o mestre e bendiziam o remédio contra todos os males, todas as farsas, o santo TEMPO!
Ao perceber que havia sido descoberto, o lobo fugiu pelos vales e ninguém mais o viu por aquelas paragens, assim a paz voltou a reinar naquele rebanho!Ninguém mais soube do paradeiro do lobo! Quem sabe ele não está em algum lugar bem próximo de você?
Fique atento, ele pode estar no seu trabalho, na sua repartição, entre seus amigos, até mesmo na sua casa!
Lobos há por toda a parte, fique atento aos sinais, pois um dia, inevitavelmente: as máscaras caem!!!






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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Roteiro da morte



No abismo de outros mundos almas calam-se inertes
Corpos cobertos de flores cobrem campos santos
Na vaga do mar lancei uma prece
As ondas levaram memórias dos anos

Janelas do futuro se fecham antes da hora
A morte declama a despedida em tristes rimas
Lembranças reféns da memória
O destino o obituário assina

Sinos e velas anunciam o cortejo
Destino esparso em tom de melancolia
Na sala a morte brinda o triste ensejo
No sarau funéreo o choro é melodia

Nas mãos frias repousa o rosário
Maquiagem de tristeza encobre as faces
Sobre o leito a incerteza do itinerário
No céu uma estrela nasce

As pás do destino preparam a cova
Arquitetura dolente de desencanto
À tarde triste e chuvosa chora
Vida encoberta por negro manto

O anjo da morte iniciou a viajem
Levou a vida pelas mãos
Aportaram na estação da eternidade
Abençoados por uma oração

A morte caminha pelas ruas do destino
Os ponteiros do relógio ensaiam despedidas
Pétalas de flores indicam o caminho
Último suspiro, hora da partida!



(Cassiane Schmidt)

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Ausência



Ausência, palavra triste, sombra de dor que envolve, que faz sangrar as lembranças;
Não há desafio, para não dizer dor, maior que a sensação da perda de alguém que amamos. A vida pode ser comparada a uma grande estação de trem, uns há que chegam, outros que partem, a vida não pára. Somos peregrinos numa terra de provações; O amor é, sem dúvida, a mais intensa sensação que podemos sentir, contudo, o amor implica no exercício da renúncia, em algum momento da vida passaremos pela abstinência do amor, pelos caminhos da dor, ir-se-á provar o cálice amargo da saudade, uma ferida aberta no coração!
É preciso coragem para amar, mais do que qualquer outra coisa!
Mesa vazia, porta-retratos, histórias, fotos, lembranças temperam a saudade, embriagam a dor, e nada, nada mais preenche o lugar, a saudade de alguém é como carta destinada a quem se quer e não mais se têm, é querer alcançar a lua, roubar uma estrela, voltar a um tempo que não mais existe, a não ser no coração de quem ousa recordar. Provar da própria saudade é como pintar na memória o retrato de quem se foi, fotografar com a alma vultos e cheiros espalhados pela casa...
A morte é como ave noturna, traiçoeira, espreita-nos pelos cantos da noite, aborta o dia! Cruel, leva pelas mãos da eternidade os nossos companheiros de jornada, ficamos para trás, olhos perdem de vista, cegam a alegria, o coração passa a enxergar.
É preciso viver intensamente ao lado das pessoas que amamos, dizer o quanto elas são importantes para nós; Porque as pessoas estão aprendendo a economizar amor? Economizar beijos e abraços verdadeiros? Estamos aposentando o carinho, esquecendo que o tempo voa como pássaro selvagem, e que não se pode pará-lo.
Mergulhar no profundo das lembranças, significa bordar as recordações em linhas de saudade no frágil tecido da vida.
Amemos sempre e cada vez mais, amemos com mais qualidade, amemos até compreendermos o verdadeiro significado da palavra amor, e talvez nesse dia, poder-se-á compreender que o amor não morre, que a separação não é definitiva, estamos ligados, eternizados pelos ventos do destino, mais cedo ou mais tarde, voltamos a nos encontrar!
Não há chegada, nem partida definitivas, há simplesmente a experiência de aprender as lições que o amor pode nos ensinar!


( Cassiane Schmidt)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

UM por todos e Tudo por UM / Eleições 2008


Hoje consigo entender a velha frase, que exaustivamente, vinha ouvindo pela tevê nos últimos dias: “Um voto faz toda a diferença”!
Um voto? Não dava importância ao adendo, e confesso que não acreditava que 1 voto pudesse fazer diferença alguma!
Ah, essa minha dificuldade com números e estatísticas!
Mas quando vi o sonho do meu pai enterrado em seu olhar azul, que de tristeza, cinza ficou, então sim, da pior maneira possível, descobri que 1 voto faz toda a diferença!
Mas pior que perder a eleição por 1 voto, é reconhecer a falsidade, as traições que envolvem toda uma campanha eleitoral!
Parabéns meu pai, voçê fez a sua parte, voçê foi honesto, sua campanha foi limpa! Numa campanha eleitoral, acreditem, o dinheiro fala mais alto! Mas a culpa não é só dos polílicos não!
O povo é quem faz o político corrupto! Ao vender seu voto, ao vender sua cidadania!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Circo


O circo chegou!
Abrem-se as tendas da imaginação
Passaporte para outros mundos
No céu anjos ensaiam uma canção!

É hora de alegria!
Lágrimas são desviadas para o mar
A tristeza foi-se embora
Nada mais importa!
A não ser sonhar e sonhar

No picadeiro encantado a alegria faceira dança
Mundos invisíveis revelam segredos
O sorriso é roteiro nos lábios da criança
Uma mágica faz desaparecer os medos


Criança feliz é cântico dos cânticos cá na Terra
Palhaços são anjos de luz
Fábrica de sonhos, deliciosas quimeras
Magia de circo que seduz

A cada sorriso de criança uma estrela nasce no céu
Malabaristas equilibram o tempo com as mãos
Poema de alegria declamado pelo menestrel
Nasce uma flor de contradição

As luzes se apagam!
Um último olhar em vão
Crianças indo embora
Levam o circo no coração!



(Cassiane Schmidt)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A síndrome do "Ctrl C"

A valorização do conhecimento está mais do que nunca, em evidência na sociedade hodierna. Acredito que em tempo algum de nossa história, a busca pelo conhecimento científico a ser produzido e desenvolvido nas escolas e Faculdades do Brasil necessitou de tamanho apoio, de mais completo incentivo no combate da triste realidade do plágio no meio acadêmico/escolar.
A busca pelo conhecimento faz parte da realidade de milhares de estudantes, a internet disponibiliza uma infinidade de recursos para pesquisas escolares. O que preocupa, contudo, é a falta de critério nos limites estabelecidos, Que critérios adotar na obtenção das fontes de informação? O que é considerado plágio? O que a lei prevê nos casos de violação dos direitos autorais? Qual o papel do professor na conscientização dos alunos?
Nunca foi tão fácil o acesso à informação, o conhecimento é algo instantâneo. O google é um dos sites mais procurados para fins de pesquisa, a Wikpédia também entra no ranking dos mais procurados, estudantes buscam nos sites, trabalhos das mais diversas áreas do conhecimento, o que importa destacar, é a falta de critério, a falta de ética de alguns indivíduos. Pessoas há que de maneira irresponsável, copiam textos na íntegra assinando como se fossem de sua autoria.
Os alunos desde o ensino fundamental devem ser orientados na elaboração de seus trabalhos escolares, a discussão acerca do plágio deve ser algo permanente nas escolas. Muitas faculdades sofrem com as sombras do plágio, estudantes simplesmente reproduzem trabalhos alheios, sem menção do autor, sem a bendita citação.
A grande facilidade a textos acadêmicos na internet, vem sendo considerada uma espécie de “salvador da pátria” para alguns estudantes que optam pelas facilidades do CTRL C e CTRL V. A palavra Plágio, como define o dicionário Aurélio, quer dizer: oblíquo, indireto, astucioso. A constituição prevê a Lei nº 9.610/98 - Direitos Autorais, esta Lei regula os direitos autorais, entendendo-se, que os direitos de autor e os que lhes são conexos devem ser preservados.
O Código Penal em vigor, no Título que trata dos Crimes Contra a Propriedade Intelectual, prevê o crime de violação de direito autoral – artigo 184 – que traz o seguinte teor: Violar direito autoral: Pena – detenção, de (3 três) meses a 1 (um) ano, ou pagamento de multa. Além disso, há também casos de processo por danos morais, muitos processos já foram instituídos a favor de vitimas de plágio no Brasil.
Seja um poema, uma letra de música, uma fotografia, até mesmo uma simples frase, deve vir acompanhada do nome do autor. Infelizmente o resultado da disseminação de conteúdos na internet, está gerando uma crise na educação, um atraso na produção intelectual dos estudantes. A educação está sendo ultrajada diante da cara de pau de alguns estudantes que subestimam a inteligência dos professores, e pior, subestimam sua própria capacidade de produção. Os professores precisam ficar atentos, e jamais compactuar com casos de cópias de trabalhos alheios, trabalhos com indícios de cópia, sem a devida citação, deve imediatamente ser recusado pelo professor. Se apropriar da produção intelectual de outrem é um ato de covardia, quem pratica esse vandalismo intelectual, está assinando seu atestado de incompetência; é querer as pernas do atleta para ganhar a corrida!
O plágio, portanto, deve ser encarado de maneira rigorosa nas escolas e universidades, os professores representam um forte aliado no combate a pratica ilícita da apropriação intelectual alheia. A pesquisa educacional é altamente recomendada na realização dos trabalhos propostos em sala de aula, contudo é preciso compreender, caros leitores, a abissal diferença entre buscar referências bibliográficas que venham a fundamentar o conteúdo proposto, e a simples cópia da opinião de outro autor como sendo a sua.
A internet é um mecanismo relativamente novo, sua utilização vem sendo realizada de maneira irresponsável! Pais e professores precisam ajudar os alunos a lidar com esse recurso de maneira satisfatória, orientando pesquisas, impondo critérios, explicitando a condição indispensável de citar autoria na obtenção de qualquer texto.
É preciso conscientização, é preciso ética! Nada mais contraproducente que a cópia, pois ela em nada acrescenta no desenvolvimento das habilidades cognitivas, ao contrário, ela alimenta a preguiça intelectual de nossos alunos! Se algumas medidas não forem tomadas, estar-se-á caminhando para uma nova era, onde nada se cria, tudo se copia.
A pirataria intelectual precisa ser freada, pois ela contamina todo o campo do saber, corrói a engrenagem do conhecimento!Cada indivíduo precisa desenvolver suas próprias habilidades, buscar estudar, ler muito, para conseguir desenvolver sua capacidade intelectual, ou seja, andar com suas próprias pernas! Assaltar a produção intelectual do outro, é perder a maravilhosa experiência de saber fazer, aquilo que o outro, trabalhando fez!



(Cassiane Schmidt)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Tempo

Flores de papel enfeitam o jardim
Nuvens no céu ensaiam tempestades
Elfos em serenata tocam clarim
A saudade vagueia em alucinantes viagens

Prelúdios da noite seduzem o dia
O sino da igreja lembra-me das horas
A melancolia com as lembranças brinda
Sonhos esquecidos onde ninguém mais mora

Letras e músicas na alma deixam rastros
O destino borda as marcas do tempo em fino tecido
Crianças presas em porta-retratos
Congelam corpos adormecidos

Quero parar o tempo com as mãos
Ressuscitar folhas de calendários
Ouvir aquela velha canção!
Encontrar nos braços de mamãe meu relicário

De manhã, cheiro doce, pés no chão
Vida tecida pelas mãos da felicidade...
À tarde: desajustes, reajustes de tempo, contradição
Bolo sem velas partilha a idade...


À noite: cortejos de sombras conduzem o passado
Cartas sem destinatários convidam a partir
As horas crucificaram o tempo calado
Hora de dormir...


( Cassiane Schmidt)

terça-feira, 16 de setembro de 2008



“A arte desconhece limites, os limites estão na mente do artista, superar os limites é transcender o medo de fracassar. Quem não tenta, fracassa por antecipação”.

( Cassi)

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Encontro



Naquela tarde vazia
Quando meu olhar encontrou o teu
Não imaginei que nascia
Uma dor no peito meu

Distância agora é sentença
Banco de réus pra paixão
Vou divulgar meu amor na imprensa
Escandalizar o seu/meu coração

Nada de dor, nada de lágrimas
Componho versos de memórias
Registro sonhos em páginas
Último capítulo da história

O relógio é cúmplice do tempo
Lembranças esquecidas em gavetas
Velhos calendários lançados ao vento
Amor velado em linhas de letras


(Cassiane Schmidt)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Perólas de Jardim

Que bela és pela manhã
Quando banhada em orvalho
Revelas toda a formosura do seu clã
Enfeita os jardins com suas nuances
Suas pétalas são pedras de rosário
Santo sudário dos amantes

O vento é valsa que te faz bailar
O sol maquiagem de luz
A noite escura te vela cuidadosa
Até os astros você seduz

És
Rosa
Margarida
Violeta
És letra e prosa
Rosas vermelhas sobre a mesa
Noite, velas, paixão
Na cama dos amantes: sobremesa!


Rainha da terra, princesa dos jardins
Fada misteriosa, cúmplice dos querubins
Bem-me-quer-mal-me-quer
Margaridas espalhadas pelo chão
A menina faceira lhe desnuda as pétalas
Descobre a paixão

Fonte inspiradora dos poetas
Oásis das borboletas
Celebra o amor em noites de seresta
Eternizo-te em letras

Estás em tudo
Rainha dos enlaces
Mártir nas despedidas
És coroa, és buquê
A certeza do bem querer

Cupidos no céu preparam sua munição
Flechas de flores
Selam destinos
Flertam amores
Um sopro de pólen no ar
Desatinos....
Nasce uma flor sobre o mar

(Cassiane Schmidt)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

VIOLETRANDO I


Na rua deserta da cidade
Há uma menina
Caminhando em desventura mocidade
No corpo marcas de uma sina

A pequena vagueia pelas ruelas desertas,
Decotes rasgam-lhe o peito
Nos lábios, impetuoso batom vermelho,
Nos olhos, desespero.

A noite está escura no beco,
Um cheiro de barato perfume
Espraia-se pela escuridão
Um gesto, um aceno de mão,
Lá vai a pobre criança,
Cumprir sua maldita lição.

Rebola menina não,
Teus pés deveriam estar pulando amarelinha,
Dançando cirandinhas
Desenhando sonhos no chão,
Com velhos tijolos de construção

Qual é o teu nome?
Pobre menina,
Que vida é essa que te consome?
Quem são teus pais?
Que País é este?


Salve! Salve!
Que os céus abram guardas de salvação
Como pode anjos pequenos rendidos à perversão?
Salve! Salve-se quem puder
Maldito ditado!
Dizem as más línguas que o autor é o tal do diabo!

Enquanto isso do outro lado da cidade
Burgueses engravatados assistem à televisão,
No noticiário:
....Menina morta é encontrada no chão!



......(Cassiane Schmidt) .......

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Terra: Uma Colônia de Férias?


Pensar a condição humana aqui na terra tem sido uma idéia fixa, quase uma obsessão, compreender a origem de tantos males, do sofrimento, da ignorância, da violência cometida a inocentes, tudo leva a um inevitável pensar! Quem ousa refletir por alguns instantes a vida, a atual conjuntura humana, invariavelmente sofre! Pois reconhece o sofrimento no rosto do outro, sente compaixão com a dor do outro!
Pessoas há que passam a vida sem se importar com o que ocorre a sua volta, sem provar uma única dose de compaixão diante das mazelas humanas, que por sinal, estão a nossa volta o tempo todo. Os hipócritas fecham os olhos e fingem que nada acontece; trata-se a indiferença de um germe altamente nocivo ao coração humano.
Observando os maiores entraves espirituais, a crise existencial que vem literalmente abatendo milhões de pessoas em todo o mundo, diante dos circunlóquios dos quais se utilizam os livros de auto-ajuda, promessas de cura através da repetição de palavras: “Eu me amo”; “Eu sou capaz”; “Eu posso; “Deus vai te salvar”! Blá...blá...blá!, chega-se a conclusão de que as pessoas perderam a identidade, estão órfãs de coragem, de fé, de princípios éticos.
Como adendo, vale lembrar que a mera tagarelice de palavras positivas, sem esforço, sem mudanças de hábito, mudanças de vícios mentais, sem empreendedorismo a favor da própria vida, de nada vai resolver!
Ah, antes que eu esqueça: Deus não salva ninguém! Somos nós que através duma fé raciocinada, de responsabilidade e esforço é que nos salvamos, é que encontramos forças para superar os obstáculos da vida!
Isso me lembra uma velha e breve estória: “Um velho senhor, admirado por sua fé inabalável à Deus, certa feita ficou a deriva em alto mar, após seu pequeno barco naufragar. Estando quase a se afogar, quando surge uma embarcação, os pescadores da pequena embarcação lançam-lhe bóias de salva-vidas, no que o homem de muita fé recusa a ajuda dizendo: - Deus é meu Pai, ele irá me salvar, recusando assim a ajuda dos pescadores. Ao morrer, é óbvio que ele morre, chega ao céu e pergunta a Deus: - por que não me salvaste? Deus responde: - Enviei um barco para te salvar, mas você recusou!”
As pessoas idealizam Deus, idealizam a salvação. Deus, decididamente não é um velho de barbas brancas, sentado num trono de ouro no céu, arrogantemente contabilizando e assinando sentenças! Ele mora e vive no coração de cada ser humano, seu trono e sua morada somos nós que edificamos, os tijolos para construção são feitos de amor, de bondade, de compaixão, de perdão, de renuncia, de fé, de oração!
Deus está presente nas coisas mais simples do dia-a-dia, num gesto solidário, no amor ao próximo, na caridade, e digam isso é fácil? Claro que não! Mas a vida é isso, uma escola difícil de ser cursada. A origem de muitos dos nossos sofrimentos está associada à idéia de paraíso! O ser humano vive em busca do fantástico mundo de Bob, dum paraíso surreal! Somos uma espécie preguiçosa demais, por isso Deus, em sua infinita sabedoria, manda-nos uma cartilha com atividades para cada um resolver! Algumas cruzes que carregamos fazem parte de halteres espirituais, que servem para fortalecer a fé, para arrancar-nos da condição de bicho preguiça humano e ir trabalhar, ser menos egoísta.
A tão sonhada paz repousa tranqüila no coração de quem faz o bem, a paz pode ser experimentada até mesmo nas dificuldades, importante é compreender as lições intrínsecas nas dificuldades que nos acometem!
A vida não é uma colônia de férias! Não estamos a passeio, absolutamente tudo que ocorre na vida de cada pessoa, tem um significado, um propósito!
Fantasiamos a felicidade, sempre como algo distante. É comum ouvir pessoas dizendo: serei feliz quando isso, quando aquilo; E esse quando não chega nunca, não vivemos o presente! Parte da mente é memória, a outra é imaginação! Então, ou estamos vivendo das lembranças do passado, ou estamos imaginando o futuro, ou seja, não vivemos o agora!
A idéia de unicidade, de irmandade, produz uma sensação de paz no coração humano, quando reconhecemos no outro parte de nós, compreendemos que somos irmãos, que somos todos os protagonistas do mesmo filme: “Evolução”, cada um compondo o seu papel, escrevendo a sua história, de acordo com a capacidade de que dispõe.
É preciso compreender a marcha da evolução, compreender os passos de cada um! O planeta terra é como uma grande escola, cada qual integra uma série de acordo com suas necessidades espirituais. Imaginem colocar um aluno da primeira série do ensino fundamental com um aluno do terceiro ano do ensino médio? Da mesma maneira, cada pessoa vive onde merece, passa pelas experiências que precisa, e nada, absolutamente nada é por acaso! Contudo, muitas coisas na vida podem ser revertidas, provações e sofrimentos podem ser evitados, ou ao menos amenizados, para isso há um único caminho: caridade!!!
A caridade é o GPS através do qual Deus nos localiza! Através da caridade poder-se-á abrir os caminhos para uma vida melhor, para um mundo novo! Substituindo raiva por compreensão, ódio por amor, estar-se-á contabilizando um novo saldo espiritual! Vamos sair do vermelho? Caridade rima com felicidade!
Viver é um desafio, requer esforço e dedicação. A pratica da fé exige de nós um preparo mental digno de atleta de olimpíada, quanto mais aprimoramento, maior a responsabilidade na vida! Vamos em frente, não vamos desperdiçar qualquer oportunidade de fazer o bem, pense por um momento, isso é a única coisa que realmente faz a vida ter algum sentido!

////////( Cassiane Schmidt) ////////

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Tardes de Agosto



O vento lá fora abriu as janelas do tempo
Esvoaçando as velhas cortinas desbotadas
Lembranças invadem a sala empoeirada
A lágrima desenha na face o percurso da dor
Manchando a folha de papiro de amor.

O coração rebelde alça vôo sobre o tempo vivido
Celebrando a missa do último dia de amor
Um cortejo te conduz pelas ruas desertas de minha alma
Vejo-te ir, cada vez mais longe, te enterro em mim!

Cupidos loucos dançam no céu
Cospem em minha tristeza lágrimas de fel
Nada restou, nem sorrisos, nem lágrimas
Só lamentos, lamento só
O que restou de nós.

Meus dedos devoram o velho rosário
O mesmo que outrora massageava em graça
A cada pedra uma oração
Lanço aos céus súplicas de esquecimento!
A Nossa Senhora peço socorro em gesto de mão
Que as pedras de meu rosário
Alcem alivio no mastro do meu coração.

Se pudesse:

Arrancaria da memória ocular tua imagem
Esqueceria tuas covinhas nascendo dum sorriso
A face dum anjo escandalizando meu frágil juízo
Esperanças flagradas no inocente olhar
Gestos e detalhes de nós dois se espraiam pelo ar

Se pudesse:

Do corpo apagaria as marcas de amor
Dos lábios o gostoso gosto
Que em desgosto se transformou
Secaria o córrego que nasceu do meu olhar
Apagaria com as cores do esquecimento
A imagem que de ti em mim ficou.

Da janela avisto o tempo vivido
No meu peito inquieta-se um coração tingido
Como bicho selvagem quer fugir
Reviver as memórias
Sentir o gosto da vitória
Daquela tarde em que te vi.
A suave brisa desta tarde enferma de Agosto
Trás consigo as lembranças
Abre no peito uma dor...
A saudade triste foge da gaiola
Bate asas sobre o tempo adormecido
Arranha a cicatriz que nunca curou.

Os finais de tarde tristes eram alegres de nós
Os lábios selvagens selavam juras
As mãos dadas costuravam nossas almas
Nas velhas tardes aladas
O brilho no olhar batizou uma sina
Escravizando para sempre o coração de menina.


Sorrisos azuis de hortênsias decoravam os jardins
Girassóis amarelavam os campos
Os pássaros, para nós, ensaiavam cantos
Manchas de um tempo perdido em velhos lençóis.


As flores perfumavam nossas almas
Os sorrisos contidos, o desejo proibido
Os versos destilados pelos teus lábios, escorriam pelas mãos
Desnudavam meu pobre coração
Presa no labirinto do seu olhar
Esqueci de tudo, joguei fora a razão
Não vi o tempo passar...

Tuas mãos lavraram meu corpo
Teus lábios regaram minha alma
Dos sonhos idos, o sonho adormecido
Naquele fim de tarde de Agosto
Em que provei o desgosto, de ter te perdido!


....... ( Cassiane Schmidt) ........

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Aposentos do Coração...



O coração é como uma pousada, um local que hospeda não pessoas, mas sentimentos.
Imaginem uma bela pousada chamada coração, neste local há uma recepcionista chamada emoção. A emoção é cordial com todos que querem hospedar-se, cordialmente recepciona todos os sentimentos que nele chegam, sem filtros, ela mistura-se aos sentimentos espalhado-os por todo o coração.
Localizado no lado esquerdo do peito, o coração é atingido diretamente pelos sentimentos que nutrimos ao longo da vida, sempre encaminhados, de maneira branda ou agressiva, pela tal emoção!
A emoção é quem vai acomodar os sentimentos que vão chegando ao coração. Com o tempo, este local sagrado precisa de manutenção, pois alguns hóspedes tratam muito mal este aposento.
A tristeza, por exemplo, é inadimplente com a emoção, entra sem pedir licença, traz seus companheiros: a angústia, a solidão, o medo, a raiva, tais sentimentos saem sem pagar a conta, prejudicam o funcionamento do coração, colocando-o em perigo! Já ouviram falar em coração falido?
Alguns hóspedes são muito bem vindos, a alegria quando chega renova o ambiente, colorindo com suas cores os jardins do coração. A emoção espalha a alegria por toda a parte, é como lava jato energético, retirando as manchas deixadas pela tristeza. A alegria, o amor, a esperança constroem no coração um aposento de luxo! É preciso manter os aposentos do coração sempre lotados dos sentimentos de paz, pois assim, não haverá lugar para os malfeitores, como à raiva, à tristeza, à angústia!
Quando predominam por longo tempo, sentimentos de raiva, mágoa, tristeza e dor, o coração é afetado, vai perdendo a vitalidade. Tais sentimentos produzem substâncias químicas nocivas para a saúde, enfraquecem a resistência imunológica, comprometendo todo o organismo. Pessoas submetidas a stress intenso, mágoas e embates emocionais negativos por longos períodos, acabam desenvolvendo predisposição a ataques cardíacos, entre outros problemas de saúde.
A medicina moderna reconhece, cada vez mais, que os sentimentos negativos ou de ódio para com outra pessoa, incapacidade de perdoar e baixa estima, produzem doenças físicas e psíquicas, acarretando um sem número de prejuízos a saúde do ser humano. Muitas das nossas doenças – explica a ciência médica – são no fundo produto dos nossos rancores ocultos.
Sentimentos de paz e otimismo liberam substâncias químicas benéficas para a saúde, a endorfina é uma delas. A endorfina produz uma série de vantagens para a saúde: Melhora a memória; Melhora o estado de espírito (bom humor); Aumenta a resistência; Aumenta a disposição física e mental; Melhora o sistema imunológico; Têm efeito antienvelhecimento, pois removem superóxidos (radicais livres); Aliviam as dores
em geral.
Cabe a cada um de nós manter a pousada “coração”, com sentimentos benfazejos em relaçao ao mundo, às pessoas, à vida! Aceitar o próximo, desfazer-se de pré julgamentos, perdoar quem precisa ser perdoado, saber superar as dificuladades e os erros passados, tudo isso, consitui fator importante para manter a saúde emocional em dia!
As crianças merecem atenção especial em relação a sua saúde psico emocional, é preciso pais equilibrados para formar crianças saudáveis e felizes. Através do amor e da generosidade, poder-se-á crer em uma sociedade mais feliz, mais saudável, numa sociedade menos violenta e mais acolhedora.
lll (Cassiane Schmidt) lll

domingo, 17 de agosto de 2008


Nem letras nem cor, nem lápis de cor! O bolinha morreu, as árvores do jardim secaram, os passárInhos foram embora! A lua se aposentou e o sol aqueceu o frio da alma humana! Ouvi dizer que a barbie rompeu seu namoro com o Ken, mas quem quer saber disso..., do Ken. Meus neurônios foram passear, talvez não voltem mais, não sei! _(@_@)_ A máquina de lavar está cheia de roupa suja, como a chuva que não vem...Letras soltas, rebeldes se costuram, se alinham, se deformam, se transformam em ninho de gato, ou passáro? Bonecos ganham vida, o Manequinho flerta com a Emilia, não da certo...O sorvete escorrega pelas mãos, desse pela guela, fechem o portão!!!!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Lembranças Levadas, Veladas...



Desenhei letras rabiscadas no coração de menina,
Acreditei em sonhos e contos de fada
Pulei o muro alto do tempo, para ver o que tinha do outro lado...
Não pude mais voltar
Manchei a roupa da candura com a escuridão da realidade.
O tempo arrancou-me dos braços as bonecas,
No lugar delas carrego o peso da saudade.


A ignorância dos homens cegou-me os olhos de criança
Os olhinhos azuis ficaram negros de desesperança
Meus pés pequenos tinham os caminhos da alegria como percurso
Hoje caminho em labirintos de pedra,
Flores coloridas artificiais velam velhos sonhos
Escombros humanos caem por terras longínquas
Cemitérios crescem na alma humana


A dor invade o peito do homem
A esperança repousa moribunda no leito da descrença
Um retrato cai da estante da sala
Resta apenas uma imagem temperada com cacos de vidro
Nada restou, o ídolo talhado ingenuamente se desfigura.


O amanhecer revela o tempo passado,
O sabiá sobre a árvore vela a natureza
Lembranças cheirando a mofo
Lançadas sobre a mesa

Não há mais ninguém em casa
As cortinas estão puídas
Brinquedos velhos de velhas crianças criam traças
Sonhos montados em quebra-cabeças de ruínas

O barulho das lembranças explode no peito...
O cheiro de erva doce se espalha na alma
A noite vai abraçando o dia com deleito
Os ponteiros do relógio dançam valsa sobre o tempo

Algodão doce espalhado pelo chão,
Roda gigante flutua nos céus
Lanço memórias em cirandas de carrosel.
O túmulo das memórias invadido
Revela um tempo vivido
Alivia as dores de uma alma
Inadimplente com o tempo adormecido!


( Cassiane Schmidt)

terça-feira, 29 de julho de 2008

Lembranças da Casa do Vovô

Dos tempos idos, recordo saudosa da casa do vovô Aluisio e da vovó Júlia. Na casa dos meus avós paternos repousam parte da minha história, registros de minha infância. A casa do vovô localiza-se nas paragens de Rio do Campo, como o próprio nome sugere, é uma cidadezinha com muitos rios e campos. E foi lá nos verdes campos de Rio do Campo que vivi momentos de intensa alegria, intensa liberdade! A infância por si só já traduz vida em liberdade, amor em realidade.
Lembro-me, sem esforço algum, de cada curva de pasto da morada do vovô, lembro-me ainda, da profundidade das lagoas turvas, nas quais eu sempre mergulhava em aventura proibida.
A riqueza de detalhes que guardo, misturam-se a saudade, então os reescrevo para me transportar novamente aquele lugar, a escrita proporciona isso.
Os detalhes nas porteiras, os currais onde via vovó com suas mãos finas tirar leite das vacas, a caça as galinhas, esquecer por vezes a porteira aberta para ver o gado fugir, as aventuras secretas no precipício da cachoeira, hoje sei que crianças têm a permanente proteção de anjos.... Os dedinhos da vovó apertando de leve minhas orelhas, tais lembranças pulam dos meus dedos, massageiam os teclados, como criança peralta querendo brincar, arranhar as lembranças é voltar a sonhar, é pegar o trem rumo a nascente cristalina de onde brota a história de cada um de nós.
O vovô Aluisio costumava sentar-se num velho caixão de lenha, onde calmamente preparava seu cigarro palheiro, lembro-me que passava a palha do cigarro sobre os lábios finos e ajeitava cuidadosamente o fumo entre as palhas, enquanto vovó preparava na cozinha o jantar. Os olhos do vovô eram azuis celestes, suas mãos eram finas, iguais a da vovó, seus dedos calejados do trabalho na roça, seus cabelos brancos da cor de neve, era magro e alto, o vovô era um homem elegante, parecia também, ser feliz.
Eu e minha irmã Juliana ficávamos as voltas do vovô, ele contava estórias de terror, de fantasmas e luzes vermelhas que cortavam os pastos em noite alta. Morríamos de medo, mas sempre queríamos ouvir mais, vovô Aluisio, hoje sei, era um exímio contador de histórias. Além das escabrosas estórias de terror, havia também uma canção em alemão que ele cantarolava para nós, contudo a letra fugiu-me a memória, guardo apenas a melodia.
Vez por outra a vovó Júlia ralhava com ele, penso que ela não queria que ele nos assustasse com suas estórias, temendo a noite que não dormíssemos.
Alguns detalhes da casa do vovô e da vovó permanecem vivos minha memória, algumas mobílias, a velha tevê, a varandinha cheia de folhagens, o cachorrinho de pano, o sofá da sala, o quarto deles com duas camas, a caixinha de grampos dourados da vovó, o cheiro do talco que ela usava.
A sopa da vovó era pintada de verde, de cebolinha, tão saborosa aquecia-nos a alma, ainda hoje não digeri a lembrança deste tempo. Vovó ainda preparava um capilé de groselha, era tão doce, tão doce, que adoçava o paladar curioso de criança.
Nas noites escuras do campo, vinha uma batucada das lagoas, sempre me diziam tratar-se de sapos-boi. Ah, esses tais de sapos-boi povoavam minha imaginação, ficava na cama imaginado que os bois, durante a noite, transformavam-se em sapos, e todos na lagoa tocavam tambor para os peixes dançar.
Nos prados amanhecidos do Rio do Campo, desenhei histórias e aventuras, rabisquei no chão livre de outrora meus sonhos, meu retrato. Mal sabia que ensaiava a despedida do melhor tempo da minha vida, estamos sempre ensaiando uma despedida, a vida é isso, chegada e partida. Queria ter hoje em minhas mãos, uma resenha do olhar azul do vovô, um áudio daquela velha canção cantarolada em meu coração, mas não os tenho, nem avôs, nem infância, nem o calor da brasa quente queimando no fogão a lenha.
O velho fogão a lenha aquecia as manhãs e as noites invernais, da chaminé, naqueles tempos, espraiavam-se as nossas vidas, a fumaça era bailarina dançando nos céus a despedida, não nos dávamos conta disso, mas assim o foi, se foi, cada um deles, cada um de nós.
Nada há que iguale aqueles velhos tempos, nada há que a vida adulta trouxe que compita com as aventuras e amores vividos em minha infância.
Meu coração pulando em meu peito batuca minha canção, ensaiando novamente, a despedida, cada pulsar lembra-me a menina dentro de mim pulando, querendo sair, voltar a brincar. Um dia essa menina incontida pulará tão alto em meu peito e fugirá pelo brilho adormecido do meu olhar, voltarei aos velhos tempos. O primeiro a partir foi o vovô, quando o vi no leito, com sua face coberta com paninho de renda, não senti tristeza, algo em mim não se despedia, sábio o coração de criança. Enquanto meu avô era velado na sala, eu brincava nos pastos, corria nos verdes prados da esperança, sepultando meu velho com alegria. Senti falta do vovô tempos depois, quando via o caixão de lenha onde ele costumava sentar, quando queria lembrar a letra da musica em alemão, e não havia mais vovô para lembrar-me a canção.
Depois da morte do vovô, a vovó foi ficando amarela, sua cama, suas roupas, onde ela tocava ficava amarelo, foi adoecendo.
Eu acreditava que ela estava ficando amarela de saudade do vovô, acho que foi mesmo, quinze dias depois a vovó se despede de nós.
Sempre pensei que quando sentisse muita saudade de alguém ficaria amarela, como vovó Júlia, hoje eu sei que saudade não tem cor, que bois não se transformam em sapos, e que lembranças não morrem, jamais são sepultadas no coração de quem ousa sonhar!
No lugar do vovô e da vovó ficou tia Alzira, velando as lembranças daquele lugar, semeando esperança no seu cativo olhar, cedendo espaço para muitas aventuras que por lá realizei, mas esta é uma outra história.


( Cassiane Schmidt)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Olhos Lavados


O amor invadiu minha vida, matou a solidão,
Encheu-me de torpor, embriagou-me com o cálice da perdição.
Acordei na alcova fria que me deixaste,
Das paredes escuras precipitavam-se anjos sem asas,
Riam, choravam,
Do meu tormento zombavam.
O amor velado sem velas,
Levado sem prece, com pressa,
Nos olhos lavados.

Ébria, sigo adiante na estrada da esperança,
Carrego em meus lábios o teu gosto, no peito um desgosto,
De ter amado mais que podia,
De ter calado antes de amanhecer o dia.
Bebi o ópio da papoula que me deste,
Da flor nada restou, estamos cá as duas,
Na intempérie dum tempo agreste.

Nos meus olhos repousam sofridas nossas lembranças,
Meu olhar distante revela que cá não estou,
Mergulhei no abismo de palavras mortas,
As ditas e não ditas,
Ah! Malditas.

Peço:
- Leve para longe a lua, o sol, o mar, as estrelas, os vales,
São eles testemunhos do crime cometido, cenário do amor vivido.
Como hei de esquecer a peça no palco do teatro?
Com o roteiro preso em minhas mãos?
Com o retrato dum tempo,
Que matou meu coração?


Lágrimas deslizam sobre minha face,
Tem seu curso findo pela saliência dos meus lábios,
Sinto o gosto de dor da lágrima,
Da lástima,
Estranho é provar a própria dor, a do amor.
Sentir o gosto do desgosto,
Ainda assim sentir falta do que provou,
Do que provocou este tal de amor...

( Cassiane Schmidt)

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O espelho








A verdadeira beleza é aquela que o tempo não pode assinar com rugas....










A verdadeira beleza esta repousando tranqüila nos corações generosos, está faceira dançando sobre a certeza de ter cumprido sua missão, de ter vivido intensamente, fartando-se da fé diante das dificuldades, do amor diante do ódio, do perdão diante da injustiça.
A beleza eterna estará nas lembranças que deixamos, nas amizades que construímos, nos amores que vivemos.
Cada passo que damos constitui os registros de tudo que fizemos, nossas pegadas são a escrivã fiel de nossa história, por isso, quanto mais caminhamos mais aproximamo-nos de nossa verdadeira imagem.
Lembrem-se da personagem da estória da Branca de Neve, a tal da bruxa. Pois bem, ela perguntava sempre ao seu espelho: - espelho, espelho meu, há neste mundo alguém mais bela do que eu? muitas vezes preocupamo-nos apenas com a superficialidade da imagem que o espelho revela, sem se importar com a beleza oculta de nossas almas.
Imaginem um enorme corredor, ao fundo do corredor há um grande espelho. À medida que caminhamos (o tempo vai passando), vamos aproximando-nos mais da imagem refletida no espelho, então, passo a passo, a imagem vai ficando cada vez mais nítida.
Da mesma maneira o espelho da vida irá refletir a nossa imagem real, sem máscaras, sem fraudes, seremos nós e ponto. E no passo final, lá estará o espelho de tudo que fomos. De tudo que fizemos. As flores que plantamos. Os espinhos com que ferimos. As palavras doces e as cruéis sairão de alto falantes ecoando em agudo nos corações humanos. A mão que estendemos em hora providente. A mão que recolhemos em ato de egoísmo, tudo emergirá da consciência, será o fim da oportuna e cômoda amnésia. Neste tempo, olhos nos olhos, retrato na parede, lágrimas e sorrisos, um espelho.
Cassiane Schmidt
(*_*)

sexta-feira, 27 de junho de 2008

De volta pra casa...


Trata-se a solidão de um estado de alma, uma sensação que pode bater a sua porta, mesmo você estando rodeado de pessoas. Invariavelmente triste, causa torpor e estranheza em quem a recebe. Como aquela visita chata que chega a casa nossa, e não vimos à hora da despedida.
Vivemos rodeados de pessoas, convivemos com algumas delas por amor, com outras por obrigação, no meio do barulho, das diferenças, muitas vezes sentimo-nos sós, impotentes diante da vida. Como seria bom ser como as tartarugas que recolhem sua cabecinha para dentro de si, talvez ali elas encontrem paz. Lembro-me de quando era criança, quando me sentia triste, ou minha mãe chamava-me a atenção por motivos tão corriqueiros, que nem os lembro mais, costumava esconder-me dentro do armário que ficava em meu quarto. Recordo com salutar saudade daqueles tempos, passava alguns minutos, talvez mais, dentro do armário escurinho, por vezes pegava no sono, e então era um deus nos acuda, pois ninguém me encontrava. Depois de algum tempo, quando davam pela minha falta, todos recorriam ao armário. Dentro do velho armário eu me sentia protegida do mundo, das pessoas. Que deleitoso tempo aquele, quase todas as noites antes de dormir, minha mãe sentava-se ao lado da minha cama e segurava uma de minhas mãos, sim porque a outra estava ocupada em segurar meu cheirinho de pano, ela então contava-me historinhas, e assim eu adormecia apertando suas mãos contra as minhas. Quando pequena eu cria em um mundo mágico, uma terra de flores e fadas, como eu era feliz! Hoje há uma menina prisioneira dentro de mim, ela não consegue sair, não há mais lugar pra essa menina expressar o encantamento que outrora morava em seu coração. Temo que um dia essa menina, por falta de espaço, precisando de ar puro, queira sair da gaiola, queira brincar novamente no chão livre daquele tempo, pois neste dia então, eu não estarei mais aqui.
Serei uma estrela no céu, a chuva num final de tarde, estarei douda de alegria, brincando em meio a revoada de pássaros numa tarde de primavera, estarei banhando-me da mais intensa felicidade em cada sorriso que uma criança der cá na terra. Algo de mim ficará guardado eternamente em papéis, em letras rabiscadas nas fachadas do tempo, onde pude assinar um tempo, um lugar, uma história!
Sou a escrivã da pequena que vive em mim, carinhosamente "ela" organiza meus pensamentos, me reporta para algum lugar da minha consciência que acredita que é possível trazê-la novamente a vida, assim espero.

_Cassi_
(>**<)

terça-feira, 17 de junho de 2008

Olhar










Algumas coisas me matam por dentro....








Se a mim fosse concedido um pedido universal, eu pediria proteção para as crianças, eu pediria a Deus que desse a elas o privilégio da infância.
Que nenhuma criança conheça a fome.
Que a pureza de seus olhos não seja maculada com a sujeira dos ignorantes.
Que a candura de seus corpos seja preservada como cristal.
Que a alegria as conduzam pelas mãos.
Que a paz repouse tranqüila e permanente em seus corações.

Quem ousa contra a vida, contra a paz, contra a integridade física e emocional de nossos anjinhos, haverá de pagar um preço alto, a prestação de conta será com a consciência!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Diálogo com o amor



Numa pequena cidade chamada Esperança, localizada nas instâncias longínquas do coração, todos estavam ansiosos e com muita expectativa com a palestra que iria se realizar em homenagem a todos os namorados da região. Os boatos eram de que o palestrante vinha de muito longe, para realizar uma conferência para todos os namorados da pequena cidade.
Chegando ao local, todos podiam observar que os primeiros lugares estavam reservados, e que na última fila havia uma linda cadeira, toda revestida de veludo vermelho, também reservada. O clima de suspense pairava no ar, no grande auditório, todos pareciam muito felizes, os rapazes com gestos corteses as suas namoradas, um clima romântico tomava conta do lugar, meticulosamente decorado com rosas brancas e vermelhas, um suave aroma de sândalo perfumava o ambiente, conferindo a magia do momento.
De repente as cortinas do auditório se abrem, saindo de trás um velho senhor de cabelos brancos, sua aparência denotava uma pessoa muito sabia, sua figura era simpática e causou de imediato a empatia de todo público ali presente. O misterioso palestrante apresentou-se ao público revelando sua identidade, seu nome era Amor, estava ali para falar de relacionamentos humanos.
Amor convidou a todos que levantassem para receber seus discípulos, era para eles as primeiras cadeiras, todos de pé aplaudiam a chegada dos sentimentos. O primeiro a entrar foi a Sabedoria, depois em passos largos entrou a Paciência, em seguida a Dedicação, cheio de pompa atravessou o ambiente a Coragem, discretamente a Humildade tomou seu lugar e por fim elegantemente chegou o Perdão.
Amor iniciou a conferencia dizendo a todos que naquele momento seria revelado o segredo da felicidade nos relacionamentos humanos, os convidados de honra fariam as suas apresentações e considerações nos caminhos a serem percorridos na busca da tal felicidade. Amor revelou aos presentes que os caminhos do coração humano não conhecem outros rumos senão os da sinceridade, que o verdadeiro elo que une um casal aponta sempre para os horizontes da esperança.
A sabedoria apresentou-se a todos como sendo o barco que conduz nos momentos de dificuldade, ela aponta sempre os melhores caminhos, aconselha sempre no bem, no entanto é preciso silenciar tudo a volta para poder ouvi-la, seus recados são sutis, a sabedoria fala a alma e não aos impulsos.
Em seguida a Paciência lembrou a todos, que nela os casais encontrarão um antídoto infalível contra as desarmonias. A paciência é a conselheira do coração, ela não permite que sejamos guiados pela raiva, filha da malvada intolerância.
A dedicação iniciou seu discurso ressaltando que só está presente onde há amor verdadeiro, ela é autentica, não pode ser forjada, impossível um relacionamento verdadeiro sem extrema dedicação. A dedicação busca suas forças com a velha e nobre conselheira chamada generosidade.
Com ânimo a Coragem sacudiu o auditório com seu vigor, convidou a todos a buscar nela as forças para a concretização do verdadeiro amor. Não poderá haver relacionamento saudável se ambos não tiverem coragem para superar os obstáculos, coragem para seguir adiante esperando a visita da recompensa. A recompensa é aquela carta destinada a todos os casais que não desistiram no primeiro problema, a todos os casais que permaneceram unidos no propósito do amor.
A humildade falou acerca de sua participação na felicidade entre os que se amam, é fundamental trazer a humildade para servir-se no banquete dos relacionamentos. A humildade é aquela que protege os casais contra o traiçoeiro e malfazejo orgulho. Através da humildade os que se amam, não tem medo de reconhecer seus erros, seus medos, ao invés disso, se fortalecem na ajuda mútua, a humildade é por fim, a terra fértil onde é semeado o companheirismo. Depois de alguns anos de relacionamento, o companheirismo será como a cadeira de balanço na varanda da vida, embalada pelas mãos generosas do tempo, então ali onde o tempo passa, os dois se bastam, bebem o cálice do seu amor.
O perdão enfaticamente falou a todos, não há possibilidade de atingir a maturidade amorosa sem mim! Eu serei para vocês a novena sem fim, às pedras dum incontável terço da alma. Somente aqueles que amarem de verdade poderão me alcançar. Serei o grito de libertação clamando no peito dos amantes, as portas para a renovação. O caminho por mim apontado é por vezes de difícil acesso, para chegar até mim é preciso recorrer aos meus intercessores: a coragem, a paciência, a sabedoria, a dedicação irão ser a bússola indicando os caminhos da felicidade.
O amor agradecia aos sentimentos, quando de repente foi interrompido por um jovem rapaz que o indagou: - mestre, a quem pertence à última cadeira? Pois vejo que a mesma permanece vazia! Então o Amor lhe respondeu:
- esta cadeira pertence ao medo, ele não pode vir, soube que se envolveu numa briga com a vaidade, ficou refém do ciúme, refugiou-se na casa da solidão, a última noticia que tenho é de que o medo morreu rendido nos braços da fé.
Assim, todos de pé aplaudiam as lições ali aprendidas

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Onde você vê um obstáculo,
alguém vê o término da viagem
e o outro vê uma chance de crescer.
Onde você vê um motivo pra se irritar,
Alguém vê a tragédia total
E o outro vê uma prova para sua paciência.
Onde você vê a morte,
Alguém vê o fim
E o outro vê o começo de uma nova etapa...
Onde você vê a fortuna,
Alguém vê a riqueza material
E o outro pode encontrar por trás de tudo, a dor e a miséria total.
Onde você vê a teimosia,
Alguém vê a ignorância,
Um outro compreende as limitações do companheiro,
percebendo que cada qual caminha em seu próprio passo.
E que é inútil querer apressar o passo do outro,
a não ser que ele deseje isso.
Cada qual vê o que quer,
pode ou consegue enxergar.
"Porque eu sou do tamanho do que vejo.
E não do tamanho da minha altura."

( Fernando Pessoa)