Tempo de Recomeçar

Tempo de Recomeçar
"Essa história vai emocionar você"

sábado, 12 de novembro de 2011

Sentidos


Correria diária, acorda, dorme, acorda e tudo de novo, sempre. Quase sempre nada novo.

A mesma coisa todos os dias no embalo senil da rotina!Os velhos caminhos que nos destilam, que nos orientam, compilam nossa vida num ritmo frenético, reduzindo-nos a calendários e paredes.

A vida é tão breve e intensa que, às vezes, penso que não cabe nessa monotonia.

Lembro-me de quando era criança, os adultos me indagavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje eu responderia: ser feliz, apenas.

Aí é que mora o fogo que acende essa reflexão!

Vivemos atropelados pela rotina dos dias, exercemos nossa profissão, na mesa o pão de cada dia, nos olhos, com sorte, resquícios de alguma alegria.

Tempo, senhor dos destinos, onde moram tantos clichês, mas uma coisa é verdade, o tempo é um velho amigo,para alguns, inimigo, o fato é que ele nos espreita por todos os lados, nos impõe seus saldos.

Por isso, e por tão menos, sou uma saudosista irreversível da infância, pois lá, naquelas terras coloridas e distantes, o tempo simplesmente não existe, não com tanta frequência, não com obstinada exigência.

Parece-me que à medida que nos distanciamos da infância, nossos sentidos sofrem alterações, permitam-me aqui, uma visão particularizada da cronista, mas é assim que sinto.

Visão, por exemplo, na infância a visão era tão mais colorida, as árvores bordadas em verdes cintilantes e recheadas de frutos amarelos esverdeados, a lua recheada de luz, tudo era muito mais colorido com os óculos da infância!

E o que dizer do paladar, ah, esse então, nem se fala... Quem não guarda memorias da infância no paladar, quem? O gosto cítrico das frutas apanhadas diretamente dos galhos, misturada às brincadeiras e fomes inocentes, o sabor da sopinha toda pintada de verde cebolinha da vovó? Quem não possui memorias gustativas dignas de saudade?

O olfato, esse poeta dos perfumes, sou capaz de lembrar, se fechar bem os olhos e me concentrar, eu sou capaz de sentir o cheiro do bolo que minha mãe assava todos os sábados no velho forninho elétrico, aos meus oito anos de idade, posso sentir o cheiro do pó acalmado pela garoa de um final de tarde de verão, o cheiro entusiasmado das flores de laranjeiras florindo!

Hoje os sentidos afloram desacostumados, adormecidos, sei lá, ajudem-me a encontrar a explicação... Se é que ela existe!?

Ensinam-nos que quando crescemos devemos nos preocupar mais com as respostas do que com as perguntas!... (...) e o que fazer então, num mundo florido de contradição, onde seguir a regra significa a perfeição?...



Cassiane Schmidt