Tempo de Recomeçar

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"Essa história vai emocionar você"

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Tardes de Agosto



O vento lá fora abriu as janelas do tempo
Esvoaçando as velhas cortinas desbotadas
Lembranças invadem a sala empoeirada
A lágrima desenha na face o percurso da dor
Manchando a folha de papiro de amor.

O coração rebelde alça vôo sobre o tempo vivido
Celebrando a missa do último dia de amor
Um cortejo te conduz pelas ruas desertas de minha alma
Vejo-te ir, cada vez mais longe, te enterro em mim!

Cupidos loucos dançam no céu
Cospem em minha tristeza lágrimas de fel
Nada restou, nem sorrisos, nem lágrimas
Só lamentos, lamento só
O que restou de nós.

Meus dedos devoram o velho rosário
O mesmo que outrora massageava em graça
A cada pedra uma oração
Lanço aos céus súplicas de esquecimento!
A Nossa Senhora peço socorro em gesto de mão
Que as pedras de meu rosário
Alcem alivio no mastro do meu coração.

Se pudesse:

Arrancaria da memória ocular tua imagem
Esqueceria tuas covinhas nascendo dum sorriso
A face dum anjo escandalizando meu frágil juízo
Esperanças flagradas no inocente olhar
Gestos e detalhes de nós dois se espraiam pelo ar

Se pudesse:

Do corpo apagaria as marcas de amor
Dos lábios o gostoso gosto
Que em desgosto se transformou
Secaria o córrego que nasceu do meu olhar
Apagaria com as cores do esquecimento
A imagem que de ti em mim ficou.

Da janela avisto o tempo vivido
No meu peito inquieta-se um coração tingido
Como bicho selvagem quer fugir
Reviver as memórias
Sentir o gosto da vitória
Daquela tarde em que te vi.
A suave brisa desta tarde enferma de Agosto
Trás consigo as lembranças
Abre no peito uma dor...
A saudade triste foge da gaiola
Bate asas sobre o tempo adormecido
Arranha a cicatriz que nunca curou.

Os finais de tarde tristes eram alegres de nós
Os lábios selvagens selavam juras
As mãos dadas costuravam nossas almas
Nas velhas tardes aladas
O brilho no olhar batizou uma sina
Escravizando para sempre o coração de menina.


Sorrisos azuis de hortênsias decoravam os jardins
Girassóis amarelavam os campos
Os pássaros, para nós, ensaiavam cantos
Manchas de um tempo perdido em velhos lençóis.


As flores perfumavam nossas almas
Os sorrisos contidos, o desejo proibido
Os versos destilados pelos teus lábios, escorriam pelas mãos
Desnudavam meu pobre coração
Presa no labirinto do seu olhar
Esqueci de tudo, joguei fora a razão
Não vi o tempo passar...

Tuas mãos lavraram meu corpo
Teus lábios regaram minha alma
Dos sonhos idos, o sonho adormecido
Naquele fim de tarde de Agosto
Em que provei o desgosto, de ter te perdido!


....... ( Cassiane Schmidt) ........

6 comentários:

caminha, caminhando, poetando... disse...

Belíssima plástica do Blog. Parabéns.
Tardes de Agosto trazem, no poema, o frio cortante de uma partida, de um amor perdido.
Belo poema.

Que Deus te abençoe,

Caminha

caminha, caminhando, poetando... disse...

Belíssima plástica do Blog. Parabéns.
Tardes de Agosto trazem, no poema, o triste frio de um amor perdido, a saudade de quem se foi.
Belo poema.

Que Deus a abençoe,

Caminha

Anônimo disse...

Encantada com tua linda "Tardes de Agosto"!
Você sabe mesmo emocionar...
Parabéns por teu talento!

Maria Laura disse...

Excelente poema, Cassiane. Triste, mas a verdade é que a saudade é uma inspiração impar. Talvez por ser tão sofrida. Beijo

Fátima Venutti disse...

Há uma beleza tão rara em tua poesia... Me calo ao ler e me envergo ao sentir.Li, reli, trili...
Vc está escrevendo MUITO Cassiane... e eu gostando cada vez mais...

PARABÉNS QUERIDA!!!!!!!!!!!!!!!!

Fátima Venutti

O Profeta disse...

Um maravilhoso poema de ... amor...ditoso aquele por quem bate o teu terno coração...


Doce beijo