Tempo de Recomeçar

Tempo de Recomeçar
"Essa história vai emocionar você"

domingo, 2 de março de 2008

A travessia



Fazia frio lá fora, era Julho de um ano perdido no tempo, mas não esquecido. Relâmpagos, trovões de um deus em fúria, produziam clarões nas velhas janelas. Todos haviam saído, eu estava só, a casa vazia, tão cheia de nós. Era uma menina ainda, me apeteciam os belos romances, histórias de amores impossíveis, que pensava existirem somente nos livros.
As fortes chuvas anunciavam uma enchente na pequena cidade, todos estavam as voltas com os avanços do rio. Para mim nada importava, meu coração transbordava, assim como as águas buscando abraçar o vazio.
Bastava um único sinal teu para que eu molhasse meus pés, numa noite sinuosa, de breu. Recebi teu chamado, desci as escadas, as águas já invadiam o jardim, nada temi. A fé que acalanta o coração dos amantes alimenta o destemor, joga lenha na fogueira do amor.
Corri como louca pela rua deserta, era eu, a chuva e o nosso amor, todos me guiando numa noite de horror. Sentia meus pés tocando as águas na estrada, a água estava fria e suja, meu corpo parecia congelar.
Você estava do outro lado do rio, havia uma ponte, era só eu atravessa - lá, que estaria junto a ti, no que seria uma noite sem fim.
Ao chegar à cabeceira da ponte avistei do outro lado um leão faminto, querendo a tudo devorar. Atrás do leão vi a saudade, louca em prantos dando chiliques na escuridão. Um pouco além vi o desejo, ensaiando ensejos num encontro de mãos. Finalmente mais adiante te avistei, embalavas nosso amor nos braços, protegendo-o das feras da escuridão.
A trilha sonora deste encontro era o forte barulho das águas, pareciam querer a tudo levar...
A ponte estava ali, sob o teu olhar aflito, e na indecisão dos meus pés em prosseguir.
Dei o primeiro passo, você disse: não!
- vá embora princesa, nosso amor segue a via crucis destes vilãos, quero-te viva, nem que seja repousando em outro coração.
Recuo um pouco, e grito rasgano o véu da noite:
- Que importam as pontes encharcadas, a ameaça de feras sorumbáticas, as chuvas duma noite sem fim, quando se sabe que um verdadeiro amor desconhece fim, adormece na noite de trevas para acordar num belo jardim.


( Cassiane Schmidt)

4 comentários:

Fragmentos Betty Martins disse...

querida__________Cassiane




segue-se



o



trilho






da_______tua travessia





sente-se





o____corpo encharcado




da chuva





que cai


impiedosamente





ao







sacrifício





o________amor





irá renascer________sempre











bela a tua escrita











beijO c/ carinho

Maria Laura disse...

É assim o verdadeiro amor. Vence tudo e renasce, tantas vezes, das próprias cinzas.

Anônimo disse...

amar é um verbo que sempre dever ser conjugado, não importando em que tempo. escrita que flui com naturalidade. abraços.

Fábio Ricardo disse...

Lindo, Cassiane! Adorei o que encontrei aqui. Você tem talento!